domingo, 20 de outubro de 2013

Perdeu a linha -- só um pouquinho.

-- Tá!, bebi um pouquinho a mais. 
-- Tá, falei uns palavrões, umas verdades inconvenientes e umas mentiras convenientes até de mais.
-- Tá, acabei tirando toda a roupa, e nu, vociferei contra as conveniências sociais.
-- Tá, cuspi na água benta, puxei os cabelos da sua tia chata, tentei beijar seu irmão gay, chamei sua mãe de corna, seu pai de filho da puta, sua melhor amiga de frígida; mas e você, o que foi que lhe fiz diretamente? (tirando as alternativas anteriores).
-- Está certo, disse, peladão -- me lembro razoavelmente -- em plena festa familiar, que todos ali presentes eram consumidores de carne Friboi e de Tony Ramos, e que deveriam tomar um doce ou uma bala pelo menos uma vez na vida, ou que fosse um cogumelo. "Melo Melo Melo, viva o cogumelo", repetia eu, a exaustão, nu, com os braços levantados, em pleno salão, até que, percebendo o clima ruim que havia causado, não tive dúvida, olhei pro Dj e gritei: TIRA O PÉ DO CHÃO!!! E a Ivete e o Chiclete e o sucesso alienante do momento me livraram de um exercício extemporâneo de aniquilamento do super ego.
No dia seguinte, todos nós fingimos que nada daquilo havia acontecido. Era o último capítulo da novela, tínhamos mais o que fazer, ou melhor, o que não fazer.


(A.L.O.)
20/10/2013

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